Criatividade Num soberbo catalogo franco-ingls de 269 paginas, magnifica ferramenta editada pela CULTURES FRANCE, descobrimos um ver- dadeiro directrio das mltiplas sensibilidades que alimentarao durante dcadas a diversidade cultural tao apreciada. esse o desafio de um encontro como este. A Africa fotografada pelos Africanos; a Europa, a Amrica, o mundo, fotografados pelos Africanos. Em Bamako em 2007, o tema exacto era "A Cidade e o Alm", o que inspirou tantos olha- res diferentes, tantos apelos ao dialogo, clichs reveladores, imagens de amor e de paz. A cidade africana um labirinto improvdvel para o visitante estrangeiro procura de pon- tos de refernciafamiliares. Os cddigos inven- tam-se aia media que vo surgindo. Ao sabor do vento. E o vento quefabrica este sincretis- mo arriscado que, apesar de tudo, funciona. Porque feito de carne e de sangue. (Simon Njami, Comissario-Geral dos Encontros Africanos da Fotografia em Bamako) O interesse de um encontro fotografico esta em constituir uma ocasiao para os fotgrafos de se confrontarem com a criaao mais actual. Claro que, em Bamako, as referncias eram de qualidade. O olho experience de Simon Njami e o do seu comissario associado, Samuel Sidib, director do Museu Nacional do Mali, permitiram a selecao de uma pliade de talen- tos de 16 nacionalidades de origem africana. Mas de que se trata ao evocarmos a origem de um artist e, sobretudo, de um fotgrafo? De uma identidade de nascena, administrative, cultural? Sabendo que uma parte dos fotgra- fos presents na Bienal vivem em Londres, Paris, Nova torque e vao de tempos a tempos, de maquina ao pescoo, procurar novas foras nos seus pauses, podemos interrogar-nos o que significa hoje a fotografia africana. Sera real- mente africana, mais africana que a de algum de origem ocidental que passou metade da vida em terras de Africa e que se empenha em olhar e palpar as luzes e os contrastes da vida africana? E o que dizer da condiao dos fot6- grafos africanos menos provides que escolhe- ram permanecer na terra dos seus antepassa- dos e se esforam por afirmar, na indiferena, uma sensibilidade do terreno? Voltemos ao event: os Encontros de Bamako eram tambm a impressionante presena da Fundaao Jean-Paul Blachre, que tem o nome do seu mecenas, que a partir do local da sua residncia de artists de Apt (Frana) valoriza ha varios anos com subtileza as obras dos artists africanos mais originals. Em matria de fotografia, devemos-lhe o facto de ter reve- lado muito cedo Sadou Dicko (Burquina Faso), a quem foi atribuido um Prmio mais uma vez este ano, o da Organizaao -4 '. r`fr^ 3||II ^s^.Sf iS? ^'S^l.-S^ Interacional da Francofonia. Em Bamako, num baldio arranjado, expunha o trabalho de 16 artists que combinavam fotografias e vide- os numa espantosa cenografia. O Ambito da promoao para a Formaao em Fotografia (CFP) de Bamako, apoiado pela Uniao Europeia, nada ficava a dever. Este cen- tro de formaao em imagem, apoiado pela associaao "Contraste" de Bruxelas, acolhia uma formaao cruzada de 18 estagiarios malianos e belgas. Este project, apoiado pela Africalia, permitiu a criaao de 200 fotogra- fias, expostas e projectadas nos bairros popu- lares de Bamako. Paralelamente, o "Cinema digital ambulante" fazia deambular um estdio digital pelos mercados da cidade, captando aqui e ali, num louco ambiente de festa, cente- nas de retratos de habitantes que associava, com um computador, a paisagens da aldeia global. O sucesso foi assegurado pelas projec- oes em ecra gigante das figures do bairro que ficavam entao sorridentes frente da torre Eiffel, das pirmides de Quops, da Grande Muralha da China! Por fim, e porque indispensavel multiplicar o intercmbio, mergulhar os criadores em con- frontaoes estticas, criar ocasies para visio- nar obras, os organizadores tinham convidado a Finlndia e a sua nova geraao de captadores de imagens para exporem os seus trabalhos. Choque, descoberta, partilha de valores, de sensibilidade e de urgncia, sempre com uma questao: o que pode aproximar mundos em si tao diferentes? O home escondido por detris do gesto artistico? O desejo de conhecer outros lugares? A generosidade de um rosto? Ou simplesmente a vontade de viver uma experincia positive: ver fotografias? * Mirko Popovitch, Director da Africalia (Blgica) M No cimo: Bienal de Fotografia, Bamako 2007. Afrique in visu /Baptiste de Ville d Avray Em baixo: Bienal de Fotografia, Bamako 2007. Afrique in visu / Baptiste de Ville d Avray