M imi B.i!iiiJlii. e o conto sao inseparaveis. E dificil encontrar um dramaturge ou actor professional que tra- balhe a partir dos contos que nao conhea esta haitiana que transformou uma arte, senao um folclore traditional, em teatro experimental de alto nfvel, e apresentou as suas criaoes em diferentes continents, recebendo varias distinoes pelo seu trabalho de desbravadora de terrenos encantadores. Aborda o conto sob todos os prismas: pela escrita, a encenaao, a msica, a sociologia, a semiologia. A sua obra valeu-lhe muitos prmios e distinoes. Recebeu distinoes como a de Chevalier de l'Ordre National du Mrite (Frana), Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres (Frana), Becker d'Or no 3. Festival da Francofonia (1989), Prmio Arletty da Universalidade da Lingua Francesa (1992), sem contar as presidncias de jris e outras distinoes. Em 11 de Novembro passado, encontrava-se em Bruxelas, na Roseraie, para apresentar uma pea destinada sobretudo a um pblico jovem, Quand les chiens et les chats parlaient (No tempo em que os caes e os gatos falavam). Mas, como acontece habitualmente nestes especticulos, os adults nao se fazem rogados e acorrem aplaudir, tanto neste estilo de apresentaao como em peas para um pblico mais exegeta do tea- tro modern, caso de Une si belle mort (Uma bela morte), ainda nas memrias, cuja estreia foi um triunfo em Avinhao em 2001. Mimi B.!iiliJliii. chegou cedo a Bruxelas. Aps a sua chegada, limi- tou-se a tomar um pequeno-almoo convivial com os organizadores do espectaculo. Tinha de se dirigir rapidamente para o teatro da Roseraie para as ltimas afinaoes, mas tambm para o prazer dos reencontros com pessoas conhecidas e admiradores, antes de subir ao palco. Ela conta, placida, calma como sempre, com uma afabilidade que seduz todos os que privam com ela. E ouve, deixando pensar que os seus interlocutores sao, para ela, o que mais conta na vida. Mimi -como lhe chamam carinhosamente uma presena, uma alquimia que seduz rapidamente todo o pblico por mais moro que possa ser partida, transformando-o em figurantes que retomam can- tos e textos, muitas vezes em crioulo ou em espanhol, que o public muitas vezes nao compreende. As crianas sao atraidas por ela, ficam boquiabertas, sem respiraao. Nao perdiam pitada, fosse uma palavra, uma silaba ou uma respiraao da histria dos dois gatos esfomeados que decide que um deles faria de morto para a vizinhana, que acorreu vigilia, artimanha que inventaram para comer os veladores e assim matar a fome. O resumo da histria que nos fez previamente ja deixava antever que era de cortar o flego. "Atravs deste simples fio e num mundo de animals (ratazana, rato, zan- dolite, pipirite, etc.), aproveito para recriar todo o ambiente de uma vigi- lia mortuaria em Haiti. Da cozinha ergue-se a voz que conta 'Ti Fou e o monstro de sete cabeas ou como o dia e a noite desceram terra' (e isso passou-se no Haiti)..." o maravilhoso que se torna realidade! Depois deste espectaculo, Mimi ainda estava extasiada com o encanto que criara nos pequenos anjos que vieram admira-la e beber as suas pala- vras e a sua music. A converse com os amigos e a parte belga da famf- lia do seu ex-marido defunto, Grard B.! ilIilii. pai dos seus filhos, co- autor com ela de livros e estudos diversos. O tempo era pouco, ela tinha de apanhar o Thalys nessa mesma noite. Mimi recordar-se-a do seu pai, ex-decano da Faculdade de Medicina de Port-au-Prince, antigo clinico dos Hospitais de Paris e descendente de um antigo chefe negro da guerra de independncia do Haiti que fugira para os bosques para viver em liberdade; e a sua mae, filha de um antigo pre- sidente do Haiti dos anos 20. Mimi Barthlmy viajou muito, a partir dos dez anos, nas Caraibas e na Florida, antes de rumar a Paris para estudar Cincias Politicas. Expatriaao e desilusao. "Quando, aos 16 anos, a jovem que havia concluido os estudos secundarios parte do Hati para Frana, depressa compreende o doloroso sentido da palavra exilio... Tinha laos de parentesco com os Franceses, pertencia a uma familiar mulata cultivada... A Frana de entao era colonial e encontrava-se em N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008